terça-feira, 23 de agosto de 2005

O vazio

Já me tinha sentido daquela forma estranha algumas vezes. Contudo nunca com aquela intensidade e rapidez.

Quando recebi o telefonema e me disseram que tinhas partido a terra abriu-se de repente e tudo ficou suspenso na frase "O Barros morreu".

Lembro-me, como estivesse agora no mesmo instante, que mal a frase acabou veio o vazio.

Não sei por onde andei até que me encontrei de novo. Chorei escondido de todos porque havia perdido não só um grande mestre e patrão como um grande amigo, daquela forma estúpida e cruel.

Fugiste sem dizer nada a ninguém mal se tinha acendido a luz ao fundo do túnel que atravessavas. Não acredito que te apanhassem sem luta, não era a tua maneira de ser.

Admirei como tiveste frieza para planear a tua despedida - exemplar na minha maneira de ser - e a continuidade dos teus.

Até na morte admirável e exemplar.

Um dia destes apanho-te João Barros,

vais-me pagar pelo vazio que deixaste e que luto por preencher!




Se eu gritar ouves o meu grito?
Ouves até ao fim
Mesmo que ouvindo te doa
Te perfure os tímpanos, te atravesse
Como me atravessa a mim?
Guardas o meu grito?
Lembrar-te-ás um dia
Quando já não me ouvires,
Quando eu for só memória,
Quando o grito ecoar longínquo
Como trovão que ainda ribomba
Mas já passou,
Quando o grito for só sussurro
Lembrar-te-ás quem o gritou?

Poema da Encandescente

5 comentários:

Miguel de Terceleiros disse...

A única coisa que eu aprendi é que os vazios podem ser preenchidos.
Grande e imponente figura o Barros, já não se fazem pessoas assim, ou será que nós somos como ele em potência?!

Humor Negro disse...

É... há malta que nos deixa incompletos... e à medida que vamos avançando na idade isto tende a repetir-se com uma frequência nada agradável.

noasfalto disse...

Terceleiros: Acredito piamente que, potencialmente, todos somos assim. O problema é que estamos no estado semi-latente.

Abraço

Miguel de Terceleiros disse...

gosto, gosto muito, blog de cara lavada, sem alcatrão. Há muito mais por baixo do tubnam...
em relação ao comentário temos sempre espaço para evoluir.

noasfalto disse...

Humor: Infelizmente tens razão