quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Tocam de novo as trombetas!!


Já está anunciada mais uma greve dos professores. Para Novembro.
Os sindicatos gabam-se de ser a 1ª vez, após o início da democracia portuguesa, que as três frentes sindicais representativas dos stôres estão unidas num propósito: não à perda de regalias e sim à dignificação da carreira. Dizem também que durante os mandatos dos 27 ministros da educação desde essa data até hoje nunca se havia visto tal coisa.
Ora então, e desde já, os meus parabéns.
Finalmente se prova a minha teoria sobre a necessidade de um novo Salazar, que espero que seja o actual 1º Ministro.

Todos nós temos a percepção da nossa caminhada sobre o fio da navalha em termos de balanço entre despesa na administração pública e, no lado oposto, receitas do Estado. O almejado equilíbrio tem que ser atingido com base num rigoroso controlo das despesas e proveitos. A proposta de orçamento de Estado para o ano 2006 (OE2006) aponta nesse sentido, quer no ano em questão quer nos próximos.
Também sabemos que para sair do pântano o estado só tem uma alavanca: aumento da receita (já que despedir muitos dos inúteis funcionários públicos é complicado – com todo o respeito pelos funcionários públicos).
Temos consciência que a receita pública tem origem em dois mananciais: as contribuições para a Segurança Social e Impostos.
Sendo incomportável à sociedade um novo aumento de impostos que resta fazer?
Salvo algumas afinações nos regimes tributários (como o “imposto sobre a riqueza” que ascende agora a 42%), os possíveis ataques às off-shores, à fuga fiscal e reformulação de um ou outro imposto, o Estado tem duas hipóteses: fingir um cenário idílico de “tamos na maior e o não falta é dinheiro” ou agarrar o touro pelos cornos. Mas, como o touro foi também por nós solto, existe uma obrigação de ajudar na agarra…e aí é que o touro torce o rabo!
O exemplo vem dos professores com a actual luta. Ou seja quem quiser que agarre o touro que nós em primeiro lugar não temos nada a ver com o problema e, em segundo, já trabalhamos que nos matamos. Agora nem pensar é em reduzir as nossas reformas, em aumentar idades de reforma, aumentar horários de trabalho e outros. Isso é que não! Senão, dizem eles, está posta em causa a sua honorabilidade, dignidade, e, note-se bem, qualidade do ensino!!
Pergunto eu: Qual qualidade do ensino? A que temos actualmente?

Eu trabalho, em média, 9 horas/dia. Desconto para a Segurança Social, pago impostos, não tenho ADSE, tiro 15 dias de férias quando calha (porque a empresa não deixa tirar férias corridas), não posso almoçar em cantinas, ganho mal, sou avaliado diariamente, peço um aumento e apontam-me a porta (por onde ao eu sair surgem 40 pró meu lugar), etc, etc, etc, e tenho noção, tal como toda a gente com olhos, que a nossa função pública é privilegiada. Entre outros os professores.
E sei que somos nós os jovens que, também por isso, vamos pagar a factura mais cara. E vocês sabem como a vamos pagar…

No meio disto tudo, que me repugna, apreciei as palavras do Sr. Ministro das Finanças sobre o OE2006, ao afirmar, por outras palavras, que o rumo é este, faça barulho quem quiser. Apreciei a postura contida e reflectida dos economistas mais nomeados da praça, que sabem a situação do país muito melhor do que nós, e afirmam ser um orçamento credível, realista e possível para agora.
Mesmo a direita oposicionista está a analisar cuidadosamente o OE2006.

Quem fez barulho? A esquerda mais radical (para variar) e os professores (até agora).
“Tá mal, tá mal e tá mal (numa primeira vista)”.

E todos sabemos que o cinto ainda vai apertar mais, porque, simplesmente, tem que apertar mais, de modo a corrigir erros do passado, as espertezas do tuga saloio e chico esperto. Depois de ter a casa arrumada e a máquina a funcionar (sem areias nas engrenagens) poderemos exigir mais.

Até lá querem Milagres? Ou o que interessa é saltar fora do barco (de preferência com uma boa reforma, tipo políticos) enquanto estão a tempo? E quem vem atrás feche a porta?

É que se for para saltar fora do barco mais vale acabar de vender o país aos espanhóis ou, não descartável de todo, emigrar em massa.

9 comentários:

Sukie disse...

Eu concordo com isto tudo, mas também discordo. E atenção, que eu pertenço á mesma classe que tu: a dos que trabalhas mais hora spor dia e têm menos férias por ano! Mas, se aumentarem a idade das reformas no ensino (por exemplo), vai haver mais desemprego para os recém-licenciados no ramo. E a verdade é que é mais produtiva uma função onde está a trabalahr uma pessoa acabada de chegar, cheia de "força" para trabalhar, do que uma pessoa contrariada devido ao cansaço e à idade...Isto é tudo muito complicado! Vê a coisa pelo lado das esperanças de vida: a da minha família do lado paterno está estimada em 70 anos! Ou seja, temos 5 anos para disfrutar daquilo que pagamos durante uma vida toda de trabalho! Eu sei que há crises económicas, mas toda a gente quer qualidade na vida que por si só já é curta. Isto é uma discussão (salo seja) que devemos ter ao vivo. Há muito por onde enveredar: quem sabe no jantar do curso de pós-graduação??? :)

noasfalto disse...

Moon: Esta questão é ,ais complexa do que parece. Ninguém imagina um(a) professor(a) a dar aulas aos 65anos. No entanto estas pessoas são muito úteis por experientes, e no reverso da medalha temos a falência do sistema da Segurança Social. Que fazer então?
Também confio nas nossas capacidades e que tal situação só será necessária caso não endireitemos as nossas contas públicas.

Mas, não esqueçamos, no privado as reformas sempre vieram aos 65 anos...
Quando vem esse jantar?

Bjs

Humor Negro disse...

Pois. No privado sempre foram aos 65. Não percebo pq é que o Estado, que exige muito menos dos seus funcionários, há-de ter benésses deste género. Ainda se o desgaste fosse maior na maioria dos cargos...

Periférico disse...

Compreendo o teu desencanto. Em Portugal há certas classes que mantêm um discurso anacrónico e desfasado da realidade. Como se fosse possível saltar do barco. Mas aí os políticos têm muita responsabilidade com os maus exemplos que por vezes vêm de cima.

Um abraço

Humor Negro disse...

ALERTA À POPULAÇÃO PORTUGUESA
Assunto: Gripe das Aves

A DGS não tem aprovisionamento de vacinas para o total de portuguesa mas à boa boa maneira portuguesa do desenrascanço foi encontrada uma solução para a prevenção da gripe das aves.
A partir de amanhã poderão comprar fisgas em qualquer farmácia do território nacional e ilhas.

Sara MM disse...

Concordo plenamente...

Aliás, não votei nos gaijos mas concordo com as medidas todas até agora, excepto a do IVA! Acho que é uma pescadinha-de-rabo-na-boca! Mais caro, menos compras, menos $ a circular, ectetc... e tudo a individar-se para o que menos importa - carros - então qual o cinto que se apertou?!?!!

Mas segurar o touro pelos cornos não é fáci para os portugueses! Só mesmo os Forcados o fazem!

Os espanhois são mais descontra mas têm quase todos os nossos problemas! Só por isso não se lhes vêem os cintos nem as pegas!

Emigrar, não obrigada que não há melhor sol nem ondas que estas (para mim!)

BJs

armando s. sousa disse...

Portugal chegou a uma situação muitíssimo complexa. Aquilo que me parece que acontece é que apesar de todos os aumentos de impostos, controlo da invasão fiscal e outras actividades mafiosas do Estado para obter receitas, estas não são suficientes para cobrir as despesas. Chegando a esta situação o Estado, neste caso o Governo tem apenas uma solução, cortar, cortar, cortar, cortar na despesa pública e deixar-se de demagogia a dizer que quer construir um novo aeroporto, mais TGV e mais não sei quantos.
Um abraço.

noasfalto disse...

no fundo acho que todos estamos de acordo no essencial. este post foi um desabafo das frustações e desencantos que me assolam ao ver a leviandade com que os portugueses encaram o futuro da nação. Tentei não seguir ideologias políticas, mas sim ideologias morais. A todos um abraço e obrigado pelo vosso contributo na partilha de opiniões.

Miguel de Terceleiros disse...

Bene bene. Não sou muito de comenatr estas cenas; acho que sou um alienado destas cenas mas tenho consciência dos sacrifícios que vamos ter que fazer.
Fora isso, muito bem escrito Sr. Engenheiro!