sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Bom Fim de Semana


E não esqueçam que este fim de semana há asfalto a derreter em Esposende!!!!!!

quarta-feira, 9 de novembro de 2005

O Bolo

Há um ano e oito meses fui convidado para uma festa de anos.

Confesso que já há algum tempo queria ir a esta festa, principalmente para conhecer o aniversariante e entrar para o seu círculo de amizades. Também sabia que o grupo que o rodeava era pequeno e, julgava eu, de boas pessoas.


Então siga para a festa todo contente. O aniversariante recebeu-me, muito cordialmente, e chamou-me à parte. Já contava, daí não ficar surpreendido.
Iniciamos uma troca de impressões, algo estranha e armadilhada pró meu lado.

Primeiros minutos – Apresentações formais(…)

Segunda fase – e eu a entrar no campo minado

- então sabe que se ficar nesta festa partilhará connosco o bolo…
- sim, imagino que sim.
- mas, para tal, e dado a minha posição devo questioná-lo sobre um assunto mais…peculiar digamos.
- percebo. Faça o favor de continuar.
- ora então diga-me lá: se eu o deixar ficar na festa o que ganharei com isso?
- … (algum espanto perante tanta frontalidade e uma sequência inspira/expira fora de comum, mais forte): Ganha quase tudo o que eu ganhei até hoje, pessoal e profissionalmente. O seu dia-a-dia será o meu.
- quase tudo? Quase tudo?
- tudo nunca poderá ser…
- não lhe vou dizer que queria tudo…
- melhor!

Terceira fase – sem saber já estava em cima de uma mina

- (…) Já agora, e dizendo-lhe que começo a gostar de sí, sabe que ao vir a esta festa terá direito a uma fatia do bolo de aniversário.
- Imagino que sim.
- Imagina?
- Estava a tentar ser cortês!
- Áh…está bem. Mas diga-me quanto quer do bolo, ou melhor, qual o tamanho da fatia que pretende?
- Bem…ainda há pouco tempo estive numa festa onde me davam 2 fatias…mas, para lhe ser sincero, não gosto de pedir fatias finas ou grossas. Acho que o bolo deve ser repartido igualmente pelos participantes na festa.
- sou da mesma opinião. Façamos assim: dou-lhe 2 fatias. Está de acordo? (Era uma mina, que burro sou, vesgo e estúpido)
- por mim serve perfeitamente.
- então vamos pra festa.
- siga! Eu quero é party.

Seguimos então para a festa. Confundido com as luzes, o som alucinante, a alegria de estar nesta festa, as hormonas aos saltos perante um novo mundo, prestei pouca atenção ao bolo.
Afinal tinha entrado para o círculo de amigos do aniversariante…que mais poderia querer. E todo contente por lhe dar quase todo o que eu tinha ganho até hoje (como anteriormente descrevi). Maldita personalidade….estou alegre com a vida, estabeleço uma direcção e prego a fundo.

Iniciei conversas com os outros, os do círculo, imiscuindo-me na party, completamente alucinado com a música em as luzes. Tipicamente eu.

Com o passar do tempo apercebi-me que o círculo de amigos era estranho. Não se deixavam levar pelas sonoridades e sons, não vibravam, permaneciam estáticos. Pedras. E, cada passo, sussurros indiscretos entre eles sobre o bolo.
Por vezes abordavam-me:
- Quanto pediste do bolo?
- Olha, como não ligo muito aos bolos, pedi duas fatias…achas muito?
- Não! – Diziam – Está bem o que pediste. Aliás pedi quase o mesmo.

Confesso que este interesse provocava alguma comichão à minha consciência. “Quase?”
Pulga atrás da orelha e siga em frente… até ao terrível momento do estouro contra a parede: a entrega do bolo!

Recebi, tal como prometido, 2 fatias. Mas, os outros, lobos gananciosos, tinham todos direito a 3, 4, 5 fatias. Alguns até ficavam com 7.
Não gostei, apesar de as 2 fatias me chegarem. O choque abalou-me e desanimei. Foi-se a tenacidade, a música parou e as luzes fundiram. Não pelo bolo mas pelo trato vivido.
Por respeito fiquei na festa.

Passado um ano novo convite. Fui curto e grosso:

- Só vou se não houver injustiças na repartição do bolo. Acho que a repartição, segundo os parâmetros do ano passado, é estúpida, hipócrita e discriminatória. Pensava que eras meu amigo, que me querias bem, mas vejo que a realidade á mais fria. Estás a destruir a minha auto-estima e a minha fé nas pessoas. Foste um canalha. Não merecia isto, não faço isto aos meus.
- Podes não aceitar mas o bolo está encomendado. É igual ao do ano passado e não queria ter que prejudicar ninguém. Sabes que eles são meus amigos há mais tempo que tú…
- O bolo é teu faz o quiseres. E não acredito na antiguidade. Acredito na ajuda que te dou e que não vejo esses teus amigos mais antigos a darem-te. Vou-me embora.
- Não vás. Por favor. Prometo que depois da festa arranjo mais um bolito só para tí.
- Percebeste tudo ao contrário! (pensando fi#$ da g#”$$###, és como um tamanco!).

Não queria gastar mais latim com ele. Era inútil. Os tamancos usam-se e deitam-se fora, não merecem mais.

Brami:

- Aguento os cavalos. Mas quero um bolito só para mim. (Engoli em seco, aliás engoli um sapo enorme: a minha concepção da sociedade e dos amigos. Tava decidido: já agora ia até ao fim.)

Já lhe falei, dessa altura até hoje, 3 vezes no bolito. Para picar, gosto de picar.
- a pastelaria estava fechada…sabes como é. Mas amanhã trato disso. Prometo.

Até hoje nada.
Agora que as luzes se apagaram, as colunas estouraram, do grupo de restrito de amigos escolhi apenas 2 para falar, sei que o próximo aniversário está próximo.
Ansioso aguardo…e sei que ou isto muda ou a minha parte do bolo vai directa prás fuças do aniversariante canalha!

Aí sim talvez, tirarei férias, reflectirei e mudarei os meus óculos para ver o mundo como antigamente. Porque ainda acredito nesse meu mundo.


Ps extra post: uma nota muito positiva para o novo álbum dos velhinhos Depeche Mode – Playing the Angel

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Ele não tinha percebido o porquê.
Ouviu, durante o trajecto entre o banco e a sua casa, num condomínio fechado, parte da notícia.
- Malditas interferências e configurações não sei quê! - pensou sobre o conflito entre o GPS e o sistema de rádio do seu mercedes V8 slk.
Sabia que, apesar de o lugar no banco estar garantido (dada tamanha cunha que fez com que o pior aluno do curso fosse nomeado vice-presidente do banco aos 25 anos), era um pouco “chato” ter que privar os colegas da sua presença para ir à oficina solucionar o problema.
Com estes pensamentos profundos na mente cumprimentou o segurança do condomínio com um breve
- Humpf!

Abriu o portão à distância necessária para não esperar muito. Parou o carro e entrou na moradia.
Em casa tudo sossegado. Como habitualmente a mulher tinha aulas de natação, body combat e etc, que lhe ocupavam os dias. Os putos, os putos onde estão? No colégio, estão no colégio...já não me lembrava...

Chamou a empregada:

- Matuléti! Chegue cá!
- Sim patrão. Chamou matuléti?
- Traz-me um uísque, rápido.

Tirou os sapatos de pele que lhe faziam calos, despiu o fato Armani, vestiu o fato de treino e foi para a sala de estar. O ecrã de plasma, enorme, fazia-lhe impressão. Demasiados comandos e botões. Sentou-se no sofá, acendeu um charuto e chamou matuléti.

- Matuléti! Chegue cá!
- Sim patrão. Chamou matuléti?
- Sabes ligar a televisão? O meu uísque? Porra de empregada...despacha-te. A patroa demora a chegar?
- Matuléti não sabe patrão...disculpe.
- Bem liga a televisão, traz o uísque e põe-te a andar!

A coitada lá ligou a tv e o sistema home cinema não a deixou pensar mais, inundadando a enorme sala com graves e agudos. Saíu para preparar o uísque.

Ele, refastelado no sofá, fez um zapping pelos canais cabo. Filmes, documentários, tele-vendas, nãããããããã. No momento em que uma luz de fogo iluminou a sala parou o zapping. Sic notícias. Canal chato, sem acção, sem tiros para estremecer com o sub-woofer.
Vem o uísque e a matuléti. Pensa para sí: esta gaja tem um cú...pode ser de cor mas é tão boa.

- Então a patroa demora-se?
- Deve tar prá chegar patrão...
-F#***#$
- Disse alguma coisa patrão?
- Nada. Ainda está aqui? Vá prá a cozinha! Já!.

A notícia passava impune à conversa.

-“...esta noite, nos arredores de Paris, centenas de carros incendiados por indivíduos de proveniência árabe.”

Fod#-$%. Estes gajos passaram-se. Qual a ideia?

-“Revoltados por não conseguirem igualdade de direitos no que toca à obtenção de um emprego...discriminados...”

Emprego, emprego. Vós devias era ter trabalho. Na vossa terra!

- “...não se conformam com as más condições de sobrevivência, no limite da pobreza...”


Sim, pois pois. E para que quereis vós dinheiro? Se fosse comigo dava-vos era um trabalho a troco da alimentação. Não se podem aturar...pensam que são gente agora...e ainda por cima a destruir o que é dos outros. Só a tiro...

Entra a mulher.

- Olá querido! Tá booom? Matulééétiiiii!!!
- Sim querida. Tou bonzinho...E a querida?
- Tudo bem meu amor.
- Sim patroa?
- Matuléti: hoje eu e o patrão não jantamos em casa. Por isso cozinhe para sí, há aí arroz e atum. Depois arrume a cozinha e vá-se deitar. Percebeu?
- Sim patroa. Com lincença patroa.

- Não jantamos em casa hoje? A que propósito?
- Ohh querido. Lembrei-me que hoje podiamos ir a uma mariscada. Apetece-me, que queres?
- Eu não quero nada. É é uma maçada tremenda ter que me vestir de novo...mas pronto. Vou pró jacuzzi um pouco, relaxar. Daqui a uma hora estarei pronto.
- Ok querido. Eu também vou pró meu jacuzzi um pouco, tou moída. Encontrámo-nos aqui daqui a 1 hora. Queres que desligue a televisão? Que estavas a ver?
- Nada de especial. Via uma notícia sobre um bando de inergúmeros franceses, ou argelinos...árabes! Veja lá você que queriam ganhar dinheiro...Queixam-se que não têm trabalho. Ao que isto chegou!
- Tens razão querido. Ao que isto chegou. Só faltava agora essa cambada. Qualquer dia tinham uma casa assim em condomínios. Que horror...só de imaginar sinto as entranhas às voltas.
- É! Tão malucos. Não se preocupe. A polícia trata deles....