segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Quando o Caminho de Santiago não foi a Santiago. De Lisboa ao Porto - 1ª Etapa de algo que há de continuar



Santiago de Compostela [A caminho de]  -  Lisboa ao Porto - Outubro 2015



Estava no calendário desde Maio ou Junho. Ficou com os princípios gerais alinhavados em Julho e transmitido a todos os que pertencem ao grupo.

Como é normalíssimo num grupo, tínhamos casos de elementos que iam fosse quando fosse. Outros há que não tem essa facilidade (eu pedi autorização às miudas com muiiiitttttaaaaa antecedência). Pelo que do grupo total, para esta aventura diferente, 5 elementos estavam confirmados.

Eram eles o Tiago, o Vasco, o Leandro, eu e o Costinha. O Henrique quase que ia, o André tinha um compromisso inadiável, os GNRs andam às multas. O Quim parece que se juntava a nós no sábado à tarde e no Domingo.


Dia 1 - 9 de Outubro

O ponto de encontro foi a Invicta, por volta das 00h00.

O Vasco trazia o povo do Norte e reunimos-nos perto da minha casa. Rapidamente estávamos a caminho da estação de Campanhã e com o bilhete na mão. Um gajo com o bilhete na mão e com quase uma hora de espera à frente o que faz? 

Confraterniza, hidrata-se e alimenta-se com cereais!





Mas o tempo passa a voar e a 1h30 chegou num instantinho. E noutro instantinho estávamos dentro do regional, numa carruagem que excepcionalmente levou 5 bicicletas.





A organização do evento tinha falado em dormir no comboio mas, confesso, para mim não foi lá muito fácil. E quando tinha finalmente adormecido há um bocado apareceu o pica das 03h30 a pedir o bilhete! Fo$%-s#...
Lá adormeci até que o Vasco me acordou por volta das 5h20. Fo$&-se...ou como diz alguém, fogesse!

Como ainda era cedo, a chegada ao Oriente era às 5h45 (de noite pouco nos adiantava ir para o Cais do Sodré já que não íamos ver nada e não...), lá convenci as meninas a fazer um striptease dentro do comboio e vestir o equipamento. O planeado seria na estação mas, convenceram-se, dentro do comboio era mais quentinho.

Equipados a rigor, à hora prevista, estávamos prontos para...o pequeno-almoço!
Toca a comer o que vinha de casa, no café da estação (aberto, mas sem pão).





E pronto, meio apressados porque havia muitos Kms a fazer neste dia, sem saber a que horas chegaríamos ao destino previamente escolhido (noite em Hostel com reserva), partimos do Oriente por volta das 06h00 da matina (noite cerrada)!

E cerrada continuou até às 07h30, enquanto faziamos o trilho junto à ribeira de Frielas, ao largo de Santa Iria da Azóia e Póvoa de Santa Iria.  Em Alverca já a luz do dia deixava ver, no meio do nevoeiro, as paisagens junto ao Tejo e as sucessivas zonas industriais que íamos atravessando. 

Lá fomos seguindo, passando a bom ritmo por Alhandra, Vila Franca de Xira,  Castanheira do Ribatejo e Carregado. As 09h00 aproximavam-se e a fome começava a dar sinais. Vai daí a paragem "no 1º tasco que aparecer" aconteceu em Vila Nova da Rainha, num tasco meio manhoso. Mas também não havia muita escolha...

O Vasco decidiu pedir um folhado e salsicha e já ia pedir uma meia de leite. Meia de leite? Com salsicha? Tás maluco? Com salsicha o que vai bem é


Fazendo cara de espanto e perguntando se eu sabia que horas eram (nem me lembrava disso) lá acederam à minha ideia e foram para os cereais.
Confesso que só cá fora me apercebi do cedo da hora (eram 09h00!!!) e que era estranho cereais àquela hora...mas que caiu bem caiu! A todos! Também já tínhamos rolado uns 50 e pico Km, estas foram merecidas.



Zarpámos de VN Rainha, já com o estômago mais satisfeito, e continuámos pelo meio de ... zonas industriais.

Até que passamos a Azambuja e o cenário mudou um bocadinho.




(Isto de tirar fotos em andamento não está fácil)

















Rolando a bom ritmo os planos feitos (a medo a média prevista não era muito grande, afinal o Tiago ia connosco), às 10h30 atingíamos o local onde era suposto almoçar: Valada. O sítio onde o dique de protecção contra as cheias (segundo Tiago Brochado)  nos permitiu desfrutar de uma bela paisagem sobre o Tejo sob um belo solinho. E ao Leandro...descansar  :)  Toca a despir casacos, aliviar peso dos líquidos e tirar fotografias.






E siga, que o almoço já vai ser é em Santarém, 20 Km à frente! Entretanto:















E, às 11h40, lá estávamos em Santarém. Com uns estonteantes 170m de acumulado em 80Km (muitos dos quais na subida para Santarém). Para mal dos traseiros de quem leva mochilas de 10Kg às costas...



(o almoço, bom e barato, é no Chefe)


Pela cara do Leandro já dá para ver que o que estava a fazer falta era isto:





Acabado o almoço toca a rolar de novo. À saída de Santarém:


















Após Santarém as setas (e o track) enviam-nos para o meio da planície ribatejana, onde ainda fomos a tempo de ver as folhas nas videiras (infelizmente as uvas já tinham ido).










E milho! Vale da Figueira.








Passando pela terra onde nasceu Saramago (sorry, no pictures).

http://www.josesaramago.org/biografia-jose-saramago/


 E seguindo, com intenção de lanchar na terra do cavalo.








E parar no Café Central. Uma "relíquia" no centro da Golegã, mesmo para gente que, como eu, que não gosta de touradas. 15h no relógio (à chegada).







Olé!


Com calor, a ver as dondocas dos criadoras de cavalos, as bombas com muitos cavalos dos criadores de cavalos, nada havia a fazer senão repor bem os níveis de cereais...e seguir.



E, finalmente, para alívio dos nossos traseiros, lá apareceu a placa que tanto queriamos ver, às 17h30.





Dizia a máquina




Toca a procurar o sítio da dormida, pré-reservado como disse, para LARGAR a MOCHILA! Fogesse...

E, diga-se, não podiamos ter escolhido melhor. Hostel 2300. Recomenda-se








Banho, tralhas arrumadas, Leandro aflito com a entrega da bacia para a recolha da roupa suja (no hostel lavam e secam, a troco de poucos euros), toca a pedir recomendações de restaurantes. A casa das Ratas estava fora de questão, o preço é alto (o que nos deixou desconfiados...eh eh eh).

E enquanto procurávamos os tascos escolhidos, para eleger um, fomos admirando um bocado a cidade de Tomar, a cidade dos Templários.






Engraçada a cidade, merece uma estadia mais calma e mais virada para a vertente cultural.


O seleccionado foi o restaurante Jardim, com o seu bife na caçarola. Atendimento atencioso (os olhos do Leandro acenderam uma faíscazita...no rapaz que servia!), porreiro, descontraído, com alguns estrangeiros a servir de companhia. Valeu. Só falharam ao recomendar o café Paraíso como o café mais animado da cidade. Era um dos mais bonitos mas de animado...oh! oh! Já que o paraíso estava deserto fomos à tasca medieval ou lá como se chama, beber uma cerveja artesanal. Muito fixe o tasco, pena que quem jantar lá dentro tenha que procurar às apalpadelas a comida no prato. Cheio de turistas, à luz da vela medieval, wc top. Só que não era para as nossas pobres carteiras de peregrino. O cansaço fazia sentir um bocadinho, vai daí cedo estávamos a dormir, na nossa camarata, e com a roupa da ginga lavada e seca.
O pequeno almoço seria excepcionalmente servido a partir das 06h30, pelo que o despertar ficou agendado para as 06h00.


Dia 2 - 10 de Outubro


Acordámos às 06h00 e acordámos também todos os que lá dormiam! Já não eram horas para estar na cama. Meio enleados preparámos o pequeno almoço no piso de cima, comemos e fomos preparar as máquinas. É nesta altura do dia em que as "sensações" são menos boas...começas a pensar como vais fazer mais de 100Km, bem subidos, se a dor de rabo e de pernas te recomenda fazer apenas 10.
A resposta é: cala-te, monta na ginga e pedala. Por isso, às 07h20:




O Quim estava perto e brevemente se juntaria a nós pelo caminho.

De Tomar sabíamos que chegávamos a subir e saíamos a subir, pelo menos uns 30Km (até Alvaiázere). E assim que saímos...anda Tiago!

















E a coisa subia mesmo! Nesta altura já o Leandro tinha ido ao chão 2 vezes...




E a coisa subia mesmo! Nesta altura já o Leandro tinha ido ao chão 2 vezes...
Até que, finalmente, encontrámos o Quim. Caminho de Santiago sem isto não é caminho. Avia-te com sacos do lixo, capas prás mochilas, etc. Mas avia-te...




Um amiguito


O Quim foi fazendo companhia à malta, esteve connosco em Alvaiázere. Só não comeu a sande com chouriço, presunto, fiambre e queijo e não repôs os cereais (excepto eu que tinha o estômago às voltas. Devia ter sido da cerveja artesanal...). Relatos do jogo feitos em directo às respectivas, e bota pró caminho que isto de parar molhado...vai lá vai. Que puto de frio. A sorte é que era para continuar a subir.




Entretanto o Quim já começava a chatear, não deixava tirar fotografias! Pelo que os registos de Maçãs do Caminho, Ansião, Alvorge e as suas fitas do trail não foram feitos. E até tinha piada, ver aquela lama toda.E os trilhos eram bem bonitos :(

Só há registo do almoço, às 13h, em Rabaçal.

Rabaçal não tinha grande oferta em termos de restaurante mas tinha (e tem) o cantinho da Clotilde. Almoço à volta dos 7h30, comidinha caseira, roupa a secar...poderia haver melhor?












     
A moça da fotografia era uma peregrina que ia para Fátima, chamada Lara, que nos fez companhia à mesa. Enquanto nós tomávamos café e chumbo ela almoçou...vai lá vai. E a falar ao mesmo tempo. Chiça.
O Leandro, nesta fase, ainda se ria. Ah ah ah. Nem sabia o que tinha pela frente, antes de Condeixa-A-Velha...umas rampitas ali para os lados de Fonte Coberta e Poço.

O Quim tinha ido dar uma volta, tentamos fugir-lhe (lá se foi a Vila Romana de Rabaçal, para desgosto do Tiago que queria ver a obra da D. Maria II). Mas pode ver aqui:

http://www.rabacal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=49&Itemid=190&lang=pt

Já em Condeixa-a-Velha tínhamos Conimbriga para ver, e o caminho passa por lá.











Seguimos caminho, passando por Cernache, Palheira e outras localidades.







E desceeeeeeemos para Coimbra (Santa Clara, melhor dizendo).







Após um episódio de perseguição a um fil$% da p%$"# de carro, que ia atropelando primeiro a mim e depois ao Leandro, perseguição essa encetada por mim e pelo Rambo (o gajo nunca pensou que o apanhássemos e que, muito menos, quase lhe partíssemos o vidro), passamos Coimbra B e na Adémia de Baixo, por pedido do Leandro, resolvemos parar "no 1º tasco que aparecesse".
Um tinha reclame à Estrela Galícia mas lá dentro tinha coisa muito melhor!!!


Parecem muitas mas só porque o miúdo que nos serviu foi mal ensinado a contar. E 5 viraram 6...e tinham que ser bebidas...




Gente muito simpática falou connosco, um ex-motorista que conhecia a nossa terra estava admiradíssimo como é que o Leandro estava de rastos com uma bicicleta com aquele peso (o homem pegou nela, a sucata!), duas de treta,  carros acelerados na estrada que parecia auto-estrada, Leandro vitaminado com proteínas naturais e telefonemas, e siga. Anda Leandro que já só faltam mais uns 15, a subir! A sorte é que o Quim andava ao largo.





Dizia a máquina:



1814, note-se. Não 814...


Chegados à Mealhada, sem nada marcado, fomos ao albergue privado Residencial Hilário. O povo não gostou, queria ir para o centro e nós estávamos prái uns 2Km à frente do centro. Voltaaaaa para trás, voltinha pelo centro, perguntas aos moradores e, informados de uma noite com escolas de samba na zona das rotundas, fomos ao hotel Oásis ver por quanto nos ficava lá ficar.
Negociações duras, lava roupa não lava, "há quartos e quartos", "aqui ficam 2 num quarto e três no outro", ah e tal...
O samba fez-nos optar por este, podiamos ir para os quartos depois de guardar as burras na garagem.
O sorteio ditou que eu ficava com o Tiago e o resto no quarto triplo. Bem..o nosso era mais frio que a temperatura exterior, com uma casa de banho decadente. Pela positiva tinha a janela para a estrada nacional.

Repetiu-se o filme: banhos, arrumações e toca a ir jantar. E na Mealhada o jantar passa por? Exatamente! Pelas pizzas, que nós somos peregrinos. Por sinal bem boas, na Tropical.

Saindo do tasco o samba ouvia-se ao longe! ah ah ah 

Uma dose de cereais num café ali ao lado (Tás Ca Larica) e toca a ir dormir que o 3º dia prometia ser pior.


Dia 3 - 11 de Outubro


O cansaço era grande e a noite foi bem dormida, até às 06h30 da matina!

O  pequeno-almoço não estava incluído no "há quartos e quartos" pelo que zarpamos em direcção ao Tropical (abria às 07h00).


O cansaço do Leandro estava explicado: a roda de trás travava! Mas nós  não a conseguíamos reparar...é o que dá ter travões xpto e não levar pastilhas.


O Quim tinha voltado! Lá fomos com ele ao Tropical onde nos vimos desesperados. Primeiro para pedir o pequeno almoço e logo a seguir quando vimos o povo de um autocarro cheio a invadir aquilo. Toca a comer e sair a despachar. Eram umas 08h00 (de dia para dia a coisa ia piorando. Começamos às 06h00 e já iamos nas 08h00!).

Bem, o Quim fez questão que não tirássemos fotografias, o ânimo tinha tido melhores dias, algumas dores no traseiro...tudo ajudou, embora o Quim seja o grande culpado. Destino: Oliveira de Azeméis.

Muita estrada e pouca terra. É essa a imagem que ficou. Muito rolante rapidamente passámos por Águeda, e começámos a ver as terras que acabam em Vouga: Mourisca do Vouga, Lamas do Vouga, Macinhata do Vouga (por causa da ponte caída de Lamas do Vouga). Em Macinhata fomos às sandes quádruplas e aos cereais. O Leandro não quis cereais (compal Leandro????) e resolveu reparar a roda traseira pelo telefone. E conseguiu destravar a roda, pelo menos em parte! E não só a destravou um bocado como ficou sem travões atrás! Não arranjes esse cubo não...
Um apontamento especial para o WC à lá Trainspotting! Só para mais tarde tentar recordar a imagem.

Retomámos o trilho em Serém (trilho...uma paralela à EN1) e andámos um bocadinho na terra antes de chegar a Albergaria-a-Velha. 

Animados com a informação histórica que o Tiago nos ia dando, abordando a problemática das guerras da D. Maria II com os romanos e com as queixas sobre o pavimento feitas por peregrinos, o que misturado veio a dar na estrada real, passámos Pinheiro da Bemposta, Travanca e penámos com o Quim pelas rampas que nos levam a Oliveira de Azeméis.

Eram 12h50, estávamos instalados em cadeiras que foram forradas a cartão (culpa do Quim, obviamente), a comer franguinho, que foi o que a maioria escolheu.











"Consegui arranjar os travóes da minha roda! Tirei óleo e resultou!"

No último almoço foi assim, franganito de churrasco (assam pitos, fogesse!), tintol carrascão do pipo, chumbo de 2€ o copito...maravilhoso. A não repetir, certamente. Siga para bingo. Destino: Porto!

O Quim distraíu-se 2 minutos e em Grijó (Mosteiro) consegui estas: 








Entretanto, em Perosinho o corpo pedia Pit-Stop. Dá-lhe cereais que é o que é preciso. O Leandro não alinha e depois queixa-se...











Em Gaia, na Serra do Pilar, o Quim distraíu-se 30 segundos :)





Nesta não aparece o costinha

Nesta desapareceu o Leandro e apareceu um quarto da cabeça do Costinha.



Dizia a máquina:                                                                                           








Em jeito de balanço posso dizer que gostei bastante desta experiência, diferente porque se passou sempre em solo nacional. Gostei especialmente do 1º dia. Pelo calor, por algumas paisagens junto ao Tejo e pela agradável tarde que tivemos. Fiquei fã da Golegã e de Tomar, que não conhecia. 
O 2º dia levou-nos por trilhos porreiros, apenas "manchados" pelo Quim. De Rabaçal fica o cantinho da Clotilde e o queijo!!! A zona do Sicó também fica na memória. 
O 3º dia foi o mais chatinho. Muita estrada, muita chuva...

Quanto ao caminho, no geral está bem marcado mas, nota-se bem, está muito "traficado". Há muita seta apagada, muitas zonas em que os tracks de GPS que seguíamos mandavam para um lado e as setas para outro, muita voltinha desnecessária (provavelmente para ver cafés e outros pontos de interesse duvidoso, só assim se perceberão as setas apagadas). Sendo que os caminhos deveriam ser os mais curtos entre localidades desconfio muito de alguns troços, onde se sobe para a seguir descer e vir ter quase ao mesmo sítio.
Conclusão: os Kms feitos nunca batiam certo com os indicados no guia do caminho central, o que, principalmente para quem vai a pé, pode ser desagradável.

Quanto à equipa, como devem ter reparado, esteve animada e louca, como de costume... 


Nota Final: Obrigado Quim. Sem ti não era a mesma coisa!

http://www.tsf.pt/sociedade/interior/joaquim_traz_chuva_e_vento_a_portugal_4822052.html